sábado, 24 de março de 2012

O DRAMA DA CONVERSÃO

Conversão é uma palavra muito forte. É dar meia volta, voltar atrás, mudar de direção. Contudo, na Palavra de Deus, a conversão sempre teve uma forte conotação interior. A pessoa que se convertia não mudava somente a direção, mas mudava a mentalidade, mudava o coração. Portanto a conversão cristã não é algo superficial, é algo profundamente íntimo.
E mais: a conversão cristã não é simplesmente uma mudança de atos, de pensamentos, mas uma purificação interior.
A minha batalha interior é para matar o que em mim está me desfigurando, o que em mim não é divino. Sim, isso mesmo. A conversão realizada em mim é para me deixar mais semelhante a Deus.

Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito. (São Mateus 5, 48)

Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
(São Lucas 6, 36)

Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é. (I São João 3, 2)



A conversão que todo cristão deve buscar é para tornar-se parecido com Deus, com os mesmo pensamentos de Deus, com os mesmos sentimentos de Deus, com os os mesmos propósitos e atitudes de Deus.

Sou criatura, não sou deus, nem sou manifestação da divindade de Deus, como se fosse uma partícula de Deus, porém, com o Sacramento do Batismo, a Graça de Deus se manifesta em mim de tal forma que me faz participar da filiação divina de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus. Pelo Batismo nós entramos no Mistério da Santíssima Trindade, pelos méritos da Vida, da Morte e Ressurreição de Nosso Jesus.

“Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que Cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas e levado para o Reino de Deus. Pelo sacramento do batismo, te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço da tua salvação é o sangue de Cristo” (São Leão Magno, Papa e Doutor da Igreja, que viveu no século V).

Com o desvio da nossa vida, com as desobediências à Ordem de Deus, vamos nos tornando mais animalescos e menos semelhantes  a Ele. O pecado mascara quem somos e nos retira da condição de herdeiros do Reino de Deus, porque, através de Nosso Senhor Jesus, somos herdeiros das Promessas Divinas, promessas essas que nos garantem a Vida e a Comunhão da Santíssima Trindade nos Céus. O pecado nos faz perder essa Condição de herdeiros, e ficamos como sem a Herança do Céu, prometida a nós por Nosso Senhor.
Por isso é preciso converter-se continuamente a Deus. Continuamente, até o segundo último de nossa vida.
A Ordem do Espírito Santo é que nos tornemos semelhante a Deus. Mas, como?
Pelo mesmo Espírito Santo.

Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.”
(Romanos 8, 14)

Como se vê é pelo Espírito Santo, pela condução do Senhor, que nos tornamos filhos de Deus. A conversão verdadeira, então, vem pelo Autor da Graça, isto é, Deus mesmo. É Ele que converte verdadeiramente o coração e o vai transformando, moldando segundo seus eternos desígnios de misericórdia.
Então, eu não devo fazer nada? – voce deve ter-se perguntado agora. Devo dizer com certeza que sim. A conversão não vem como um passe de mágica, a sua transformação interior, sua “elevação ao Trono de Deus”, como filho pela graça, por Jesus Cristo, o Filho por natureza, vem através de uma contínua entrega ao Espírito de Deus, em obediência, amor e graça.
E entregar-se ao Espírito Santo, para por Ele sermos conduzidos requer uma morte aos desejos contrários ao Espírito Santo.
Assim, surge a grande batalha interior.
Por causa do pecado orginial de nossos primeiros pais (Adão e Eva) perdemos a Comunhão com Deus, e pelo Batismo, essa Comunhão é restaurada, contudo, nós ainda sofremos os efeitos desse pecado, dessa desobediência de Adão: o egoísmo, a soberba, a tendência pela desobediência, o desejo por coisas baixas, a escravidão diante das coisas e dos seres, a fraqueza, a impeferfeição, isto é, somos escravizados pela nossa natureza física, e o pior, com o pecado nos tornamos escravos do diabo. Sem o pecado original não seria assim.
Por isso, nossa carne não quer obedecer ao Espírito Santo, porém, para sermos filhos Deus, temos que ser conduzidos pelo Espírito de Deus, e para sermos conduzidos pelo Espírito Santo temos que obedecê-Lo.
 Aí, então, surge um grande problema. A nossa carne desobediente não quer obedecer, mas precisamos obedecer. Surge então a guerra entre o espírito humano e o Espírito divino. Preciso me entregar, mas minha carne não quer.
No meio dessa guerra, eu preciso com convicção tomar as rédeas da minha vida e entregá-las ao Espírito Santo.  Mas, para fazer isso preciso “me matar” aos poucos, ir matando minha vontade egoísta e orgulhosa, minha mente desobediente, meus desejos por coisas vãs e baixas, ir destruindo em mim o que a Palavra de Deus chama de homem velho (Efésios 4, 22), ir sufocando essas tendências maléficas, esses aspectos de morte, aspectos de um homem idoso, caminhando para a morte, trôpego, inválido. E como se faz isso?
Pela oração e sacrifícios.
Quando me refiro à Oração não só me refiro à oração pessoal (o que é de suma importância), mas também a participar da Oração da Igreja, isto é, da Oração que a Igreja faz para perdoar nossos pecados e nos trazer a Redenção: a Confissão e a Missa.
Quando me refiro a Sacrifícios, refiro-me a oferecer a Deus os sofrimentos cotidianos como oferta de reparação pelos nossos pecados, a jejuar e praticar a abstinência de comida e a sacrificar nossos prazeres com sobriedade,  e ir dessa forma enfraquecendo os desejos de superioridade em nós, aspectos claros de uma humanidade corrompida, caída e desobediente e que não sente desejo por ser amada por Deus e amar a Deus.
Dessa forma, nos entregando continuamente ao Espírito Santo, pela oração e sacrifícios diários, vamos nos deixando ser formados e “divinizados” por esse mesmo Senhor à imagem e semelhança de Deus, como era no princípio, e assim no final de nossa vida o Céu se abrirá para nós, para contemplarmos e vivermos eternamente imersos no Amor Eterno e Infinito.
É esse o Caminho do Amor, nos entregarmos a Ele, por Ele e com Ele.

A Jesus, a Sabedoria de Deus, a glória e a nós a Misericórdia!

tt



Nenhum comentário: