terça-feira, 18 de outubro de 2011

OS TERRÍVEIS TORMENTOS DO INFERNO

Algumas histórias reais de provas da existência e da realidade do Inferno:

Um dia, uma alma santa meditava no inferno, e considerando a eternidade dos suplícios, aquêle terrível nunca e o terrível sempre, ficou bastante impressionada, porque não compreendia como se pudesse conciliar esta severidade sem medida com a bondade e outras perfeições divinas.
– Senhor, dizia ela, eu me submeto aos vossos juízos, mas, permití-me, não sejais demasiado rigoroso.
– Compreendes, foi a resposta, o que seja o pecado? Pecar é dizer a Deus: não Vos obedecerei; pouco se me dá da vossa lei; rio-me das vossas ameaças!
– Vejo, Senhor, como o pecado é um monstruoso ultraja à vossa divina majestade.
– Pois bem, mede, se podes a grandeza dêsse ultraje.
– Compreendo, Senhor, que êsse ultraje é infinito, porque vai contra a majestade infinita.
– Não se exige então um castigo infinito? quanto à intensidade, sendo a criatura limitada, requer a justiça que seja infinito ao menos quanto à duração: portanto, é a mesma justiça divina que exige o terrível sempre e o terrível nunca. Os próprios condenados serão obrigados a prestar homenagens, mau grado seu, a esta justiça e exclamar em meio aos tormentos: “Vós sois justo, Senhor, e retos os vossos juízos.”

Monsenhor Ségur, no seu áureo opúsculo sôbre o inferno narra três fatos, cada qual mais autêntico, acontecidos não faz muito tempo.

O primeiro, diz ele, sucedeu quase em minha família, pouco antes da terrível campanha de 1812, na Rússia. Meu avô materno, o Conde Rostopkine, governador militar de Moscou, era intimamente relacionado com o general Conde Orloff, tão valoroso quanto ímpio.
Um dia, após a ceia, o conde Orloff e um seu amigo, o general V…, volteriano como êle, puseram-se a ridicularizar a religião e sobretudo o inferno:
– Mas…, disse Orloff, e se houvesse alguma coisa além do túmulo?
– Neste caso…, diz o general V…, o primeiro que morrer virá avisar o outro; de acôrdo?
– Pois não, responde Orloff.
E ambos prometeram seriamente não faltar à palavra.
Algumas semanas após, desencadeou-se um daquelas guerras que Napoleão sabia suscitar; o exército russo foi chamado às armas, e o general V… recebeu ordem de partir incontinenti para um pôsto de comando.
Duas ou três semanas depois da partida de Moscou, quando meu avô se levantara, bem cedo, viu abrir-se bruscamente a porto do quarto e entrar o conde Orloff, com roupa de dormir, de chinelos, cabelo em desalinho, olhos esbugalhados, pálido como cera.
– Oh! Orloff vós aqui a esta hora? Neste traje? Que aconteceu?
– Meu caro, responde Orloff, eu perco a cabeça; vi o general V…
– Oh! Ele já voltou?
– Não, continua Orloff, atirando-se a um divã, não, não voltou, e é isto que me espanta.
Meu avô nada compreendia e procurava acalmá-lo.
– Contai-me, então, lhe disse, o que aconteceu e o que significa tudo isto.
Fazendo grande esfôrço para se acalmar, o conde Orloff contou o seguinte:
– Meu caro Rostopckine, não faz muito, o general V… e eu, juramos que o primeiro que morresse, viria avisar o outro se há de fato alguma coisa além do túmulo. Ora, pela madrugada, enquanto estava tranqüilo na cama, acordado, sem pensar no amigo nem no juramento, abre-se de repente o cortinado do meu leito e vejo, a dois passos de mim, o general V… de pé, desfigurado, com a mão direita no peito, e me fala: “Existe um inferno, e eu lá estou…” e desapareceu. Na mesma hora corri até cá; eu perco a cabeça! Que coisa estranha! não sei o que pensar!
Meu avô tranqüilizou-o como pôde: falou-lhe de alucinação, fantasia… que êle talvez estivesse dormindo… que às vêzes dão-se casos extraordinários, inexplicáveis… E procurava persuadí-lo com outros meios termos, que apesar de nada valerem, servem para consolar os céticos. Mandou preparar o coche e acompanhou o conde à sua casa.
Dez ou doze dias depois deste estranho acontecimento, um estafeta do exército comunicava ao meu avô, entre outras coisas, a morte do general V…
Naquela madrugada em que o conde Orloff o tinha visto e ouvido, o infeliz general, saindo a estudar a posição do inimigo, foi varado por uma bala e caiu morto.
“Existe um inferno, e eu lá estou…”
Eis as palavras de um que veio do outro mundo!

O segundo fato é referido pelo mesmo autor, que o tem por indubitável, como o precedente, pois o ouviu da bôca de um repeitabilíssimo eclesiástico, superior de importante comunidade, o qual por sua vez, soube os pormenores mediante um parente da senhora, com a qual se deu tal fato. Naquele tempo, isto é, por ocasião do Natal de 1859, ela ainda vivia e contava pouco mais de quarenta anos.
Achava-se essa dama em Londres no inverno de 1847 e 1848; enviuvara aos 29 anos, era muito rica e muito amiga dos divertimentos mundanos. Entre as pessoas elegantes que freqüentavam a sua casa, notava-se especialmente um moço, cujas contínuas visitas a comprometiam não pouco e cuja vida estava longe de ser edificante.
Uma noite, a senhora lia não sei que romance para conciliar o sono. Ouvindo bater o relógio, apagou a vela e dispunha-se para deitar, quando percebeu, com grande assombro, que uma luz estranha e pálida vinha da porta do salão contiguo e espalhava-se a pouco e pouco no quarto, aumentando sempre. Não sabendo o que era, do pasmo passou ao mêdo; eis senão quando, viu abrir-se lentamente a porta do salão e entrar no quarto o jovem desregrado, o qual, antes que ela pudesse pronunciar palavra, aproximou-se, tomando-a pelo braço esquerdo, apertando-lhe fortemente o pulso, e com aceno desesperado, lhe falou em inglês:
– Existe o inferno!
Foi tão grande o susto que a senhora perdeu os sentidos. Voltando a si, tocou nervosamente a campainha para chamar a criada, que a tendeu; entrando no quarto, esta sentiu logo um cheiro de queimado e chegando-se à ama, que com dificuldade articulava umas palavras pôde ver que tinha ao redor do pulso uma queimadura tão profunda que a carne desaparecera e ficava à mostra o osso. Observou além disso, que da porta do salão até o leito e do leito à porta do salão estava impressa a pegada de um homem, que tinha queimado o pano de parte a parte. Por ordem da ama, abriu a porta do salão, e notou que lá terminavam as pegadas no tapete.
No dia seguinte, a desditosa senhora soube com aquele mêdo que bem se compreende, que alta noite, o tal moço se embriagara com excesso, e transportado para casa, veio a morrer pouco depois.
Ignoro, acrescenta o superior, se esta terrível lição tenha convertido a infeliz dama; o que sei é que ela ainda vive e para esconder aos olhares curiosos o sinal daquela sinistra queimadura, leva no pulso, à guisa de bracelete, um largo enfeite de ouro, que não deixa nem de dia nem de noite. Repito que os particulares eu os tive da bôca de um seu parente próximo, católico sincero, a cuja
palavra presto fé. Os parentes não falam do ocorrido e é por isso que tenho o cuidado de ocultar o nome da família.
Apesar do véu, no qual esta aparição foi e deveu ser envolvida, não me parece, acrescenta Monsenhor Ségur, que se possa pôr em dúvida a formidável autenticidade.

O terceiro fato aconteceu na Itália.
Em 1873, em Roma, alguns dias antes da Assunção, uma moça, bastante má, machucou uma das mãos. Levaram-na para o Hospital da Consolação. Ou porque o sangue estivesse muito deteriorado ou porque sobreviesse grave complicação, a infeliz morreu naquela noite.
No mesmo instante uma de suas companheiras, que não sabia o que acontecera no hospital, pôs-se a gritar desesperadamente, a tal ponto que acordou tôda a vizinhança e provocou a intervenção da polícia.
A companheira que morrera no hospital apareceu envolvida em chamas e lhe disse: –“Estou condenada, e se não queres condenar-te também, sai deste lugar infame e volta a Deus.”
Nada consegui acalmar a agitação da jovem, que bem cedo abandonou aquela casa, deixando a todos atônitos, especialmente depois de divulgada a notícia da morte da companheira, no hospital.
Aconteceu que, logo depois, a proprietária da casa, uma garibaldina exaltada, caiu doente, mandou logo chamar um padre, dizendo que queria receber os sacramentos. A Autoridade Eclesiástica delegou para êsse fim um digno sacerdote, Monsenhor Piroli, pároco de S. Salvador em Laura. Munido de especiais instruções, êle se apresentou e exigiu, antes de tudo, que a doente fizesse, perante testemunhas, plena retratação de suas blasfêmias e insultos contra o Sumo Pontífice e declarasse que afastaria as ocasiões de pecado. Sem a menor hesitação, a infeliz promete e então se confessa e recebe o Sagrado Viático com grandes sentimentos de penitência e humildade.
Pressentindo o seu fim, a pobre mulher, com lágrimas nos olhos suplicou ao padre que não a abandonasse, amedrontada como estava por aquela aparição. Assim, teve a grande graça de ser assistida nos últimos momentos pelo ministro de Deus.
Tôda a Roma conheceu logo os particulares desta tragédia.
Como sempre, os ímpios e os libertinos fizeram dela objeto de chacota, abstendo-se, à aposta, de obter oportunas informações; mas, de sua parte, os bons aproveitaram para se tornarem melhores e mais exatos no cumprimento de seus deveres.

Santa Tereza foi um dia arrebatada em êxtase e levada ao inferno para ver o seu lugar, caso não se emendasse de certo defeito.
Ela mesma conta em sua autobiografia:
“Estando um dia em oração, fui transportada, sem saber como, em corpo e alma, ao inferno. Compreendi que Deus queria mostrar-me o lugar que ocuparia, se não mudasse de vida. Não tenho palavras que possam dar uma pequena idéia desse tormento incompreensível. Sentia em minha alma um fogo que me devorava e o corpo sofria dores insuportáveis. Dúrante minha vida passei por duros sofrimentos, mas, nem se comparavam com os que tive naquela ocasião; e ainda êsses subiam de ponto, ao pensar que seriam eternos e sem o menor alívio. Mas, apesar de as torturas do corpo serem atrozes, não tinham comparação com as agonias da alma. Ao mesmo tempo, sentia-me queimar e partir em pedaços, sofria tôdas as angústias da morte e os horrores do desespêro.
Num raio de esperança e de consolação naquela moradia, aí se respira um odor pestilencial, que sufoca; nem um raio de luz, mas tudo são trevas da mais densa escuridão; contudo, oh! mistério, mesmo naquele escuro se distingue o que de mais penoso há para a vista.
Em suma, tudo o que ouvi dizer ou li sôbre as penas do inferno é insignificante em confronto com a realidade; entre aquelas penas e estas há a mesma diferença entre uma pessoa e o seu retrato. Ai! o fogo dêste mundo por mais ardente que seja, é como o fogo pintado, comparado com aquêle que atormenta os réprobos no inferno.
Há dez anos que tive esta visão, mas estou ainda agora tão espantada, que, enquanto escrevo, o mêdo gela-me o sangue nas veias. Em meio às provocações e dores que tenho, trago à mente esta visão e de aí tiro fôrça para tudo suportar”.

Vicente de Beauvais, no livro 25 de sua História, refere o seguinte fato, acontecido pleno ano 1000.
Dois libertinos fizeram uma combinação: o primeiro a morrer viria à terra participar ao companheiro em que estado se achava. Morreu um deles, e Deus permitiu aparecesse ao amigo: era horrendo, parecia sofrer duramente e suava em bicas. Enxugou a fronte com a mão e deixou cair uma gota de suor no braço do companheiro, dizendo-lhe:
– Eis qual é o suor do inferno; dêle terás um vestígio até à morte.
E assim foi, pois aquêle suor infernal queimou-lhe o braço, penetrando na carne com dores inauditas.
Bom para êle que soube aproveitar-se de tão terrível lição e retirou-se para o convento.

Fala-nos o Padre Nierenberg de um jovem que levava uma vida aparentemente cristã, mas odiava a um inimigo; e conquanto frequentasse os Sacramentos, nutria para com êle sentimentos de vingança, que Jesus Cristo obrigava depor.
Morrendo, apareceu ao pai, todo envolvido em chamas, e disse-lhe que se condenara por não ter perdoado ao seu inimigo, e chorando exclamou:
– Ah! se tôdas as estrêlas do céu fossem como línguas de fogo, não traduziriam os tormentos que sofro.

Um virtuoso sacerdote, enquanto estava exorcizando um energúmeno, perguntou ao demônio que penas sofria no inferno. A resposta foi esta:
– Um fogo eterno, uma maldição eterna, uma raiva eterna e um desespêro cruel por não poder mais ver Aquele que me criou.
– Que farias para que te fosse concedido ver a Deus?
– Para vê-lo, mesmo por um instante, estaria pronto a sofrer num minuto tôdas as penas que devo sofrer em dez mil anos… Mas, vãos desejos, hei de sofrer sempre e não O tornarei mais a ver.
E foi tal o tormento e o desespêro com que pronunciou estas palavras, que deixou funda impressão naquelas que assistiam aos exorcismos.

Eu não creio em nada
– Eu não creio em nada, dizia-me duma feita um dêsses doutores da impiedade, com empáfia.
– Como? Vós não credes em nada? repliquei. Então não credes na existência da América, da Oceania…
– Oh! Certamente que sim; queria dizer, não creio em nenhuma coisa sobrenatural.
– Mas, porque credes na existência da América e da Oceania, que nunca vistes?
– Tem graça! Creio porque o afirmam os geógrafos e muitas pessoas que perlustraram essas regiões.
– E se credes na existência de coisas que nunca vistes, só porque o dizem os homens, porque não credes na existência do inferno, do juízo, revelada pela palavra infalível de Deus, confirmada pela razão e proclamada pela voz de todos os povos?
O livre pensador deu de ombros e não soube responder; mas, nem por isso se converteu. Custava-lhe tanto deixar sua vida desregrada e praticar a virtude!
Como são dignos de compaixão êsses libertinos! Pretendem destruir o inferno, negando-lhe a existência; mas, quem nega uma coisa não consegue eliminá-la. Se eu negasse a existência da América ou da África, não conseguiria riscá-las da face do globo, mas subsistiriam, não obstante minha negação. Negai, negai quanto quiserdes a existência do inferno, que apesar disso o inferno continuará a existir e a queimar as suas vítimas, e um dia se abrirá para vós e vos sepultará naquelas chamas, se vos não corrigirdes de vossas desordens. A vossa fanfarrice e a vossa negação estulta não apagarão certamente aqueles ardores sempiternos, ao contrário, servirão para os aumentar e fazer-vos afundar mais naquele abismo. Quanto mais vos obstinardes na infidelidade e na negação do inferno, tanto mais acumulareis pecados e culpas para expiar na eterna prisão.

O Padre Bach, na vida de S. Francisco de Jerônimo, narra a triste sorte duma mulher incrédula que zombava do inferno e dos novíssimos. O fato não deixa nenhuma dúvida, pois foi
juridicamente provado no processo de canonização do santo, e atestado com juramento por muitas testemunhas oculares.
No ano de 1707, S. Francisco de Jerônimo prègava, como de costume, nos arrabaldes de Nápoles, falando sôbre o inferno e os terríveis castigos reservados aos pecadores obstinados. Uma mulher insolente, morava na redondeza, aborrecida com aqueles sermões, que lhe acordavam no coração amargos remorsos, procurou molestá-lo com chascos e gritos, desde a janela de sua casa; uma vez, o santo lhe disse: – Ai de ti, filha, se resistes à graça! não passarão oito dias, sem que Deus te castigue.
A desaforada mulher não se perturbou por aquela ameaça e continuou a com suas más intenções. Passaram-se oito dias, e o santo foi prègar de novo perto daquela casa, mas desta vez as janelas estavam fachadas e ninguém o importunava. Os vizinhos que ouviam consternados lhe disseram que Catarina (tal era o nome daquela péssima mulher) tinha morrido de improviso, pouco antes.
– Morreu? disse o servo de Deus; pois bem, agora nos diga de que valeu zombar do inferno; vamos perguntar-lhe.
Os ouvintes sentiram que essas palavras o santo as pronunciara com inspiração, e por isso todos esperaram um milagre. Acompanhado da multidão subiu à sala, convertida em câmara ardente, e após breve oração, descobriu o rosto da morta e:
– Catarina, gritou, diz-nos onde estás!
A esta ordem, a defunta ergue a cabeça, abre os olhos, toma côr o seu rosto, e em atitude de horrível desespêro, profere com voz lúgubre estas palavras:
– No inferno! eu estou no inferno!
Imediatamente cai e volta ao estado de frio cadáver.
Eu estava presente ao fato, afirma uma das testemunhas que depuseram no tribunal apostólico, mas não saberia explicar a impressão que causou em mim e nos circunstantes; ainda hoje, passando perto daquela casa e olhando a tal janela, fico muito impressionado. Quando vejo aquela funesta moradia, parece-me ouvir a lúgubre voz: – No inferno! eu estou no inferno!

Na vida de S. Bruno, fundador dos Cartuxos, lê-se a ressurreição momentânea de uma personagem respeitável para atestar diante de muita gente a própria condenação. París e tôda a França ficaram horrorizados com êsse acontecimento; foi, então, que Bruno temendo os juízos divinos retirou-se para a Cartuxa a fim de lavar vida austerríssima.
Morreu Raimundo Diocres, doutor de Sorbona, homem conceituadíssimo pela sua vasta ciência, não menos por uma aparência de virtude. Depois de três dias, o seu corpo, revestido das insígnias doutorais, foi transportado solenemente para ser sepultado; acompanhavam-no o colégio dos professores, grande número de estudantes e teoria de clero.
As exéquias celebraram-se na catedral, revestida de luto, entre luzes e muitas inscrições que lembravam a insígne ciência e as virtudes do ilustre extinto. Mas quando o coro dos cantores chegou àquele trecho do ofício: Responde mihi: quantas habeo iniquitates et peccata; scélera mea et delicta ostende mihi; onde o santo Job roga a Deus lhe faça conhecer as suas culpas, o cadáver levantou a cabeça e féretro e com voz lastimosa exclamou: Por justo juízo de Deus sou acusado: dito isto, tornou a repousar a cabeça, como dantes.
Apoderou-se dos assistentes um terror geral, e resolveram deixar para o outro dia os funerais. Neste dia foi muito maior a concorrência; recomeçou-se o ofício, e ao chegar às mesmas palavras, tornou o cadáver a erguer a cabaça e a exclamar com voz esforçada e mais lastimosa: Por justo juízo de Deus estou julgado.
Subiu de ponto o pasmo e o espanto. Resolveram diferir a inumação para o terceiro dia. Nesta foi imenso o concurso; deu-se princípio ao ofício, como nos precedentes; quando se cantavam as mesmas palavras, levantou o defunto a cabeça, e em voz horrível e espantosa exclamou: Não careço de orações; por justo juízo de Deus estou condenado ao fogo eterno.
É fácil compreender a impressão que faria nos ânimos um acontecimento tão extraordinário. Achava-se Bruno presente a êste espetáculo; tão fortemente se emocionou com êle que, retirando-se horrorizado, resolveu deixar quanto tinha e enterrar-se em algum espantoso deserto para ali passar a vida entregue unicamente aos rigores da mortificação e da penitência. Parecia necessário um sucesso tão trágico para uma resolução tão generosa.

Santo Antônio de Florença refere nos seus escritos um fato terrível, que pela metade do século XV encheu de pavor todo o norte da Itália.
Um rapaz de boa família, que na idade de 16 para 17 anos tivera a desgraça de calar na confissão um pecado mortal e de comungar nesse estado, ia adiando, de semana em semana, de um mês para outro, a confissão para êle tão penosa dos seus sacrilégios. O santo arcebispo não menciona qual fôsse o pecado oculto, mas parece que tenha sido uma culpa grave contra a bela virtude. Atormentado pelos remorsos, em vez de descobrir com sinceridade a sua miserável condição, procurava a paz fazendo grandes penitências; mas inutilmente.
Não agüentando mais os contínuos assaltos da consciência entrou num convento, pensando: – Lá, ao menos, confessar-me-ei bem e farei penitência dos meus pecados: Por sua desgraça foi recebido como um moço de vida exemplar, pois os superiores sabiam da boa reputação de que gozava; e por isso, também aqui a voz da consciência para outra ocasião, e dois, três anos passou-se em tal deplorável estado, sem ter a coragem de se confessar.
Afinal uma doença parecia-lhe trouxesse oportunidade: – Desta vez, dizia consigo o infeliz, manifesto tudo e faço uma confissão geral antes de morrer.
Mas, também desta vez não foi sincero na acusação; fez tantos rodeios que o confessor não compreendeu nada; esperava confessar-se melhor no dia seguinte, mas surpreendido por uma crise, expirou miseràvelmente nesse estado.
Na comunidade, ignorando todos o seu triste fim, cercaram de veneração o defunto; o corpo foi transportado para a igreja do convento, onde ficou exposto no côro até as matinas do dia seguinte, quando se fariam as exéquias.
Uns minutos antes da hora marcada para a cerimônia, a um dos frades que fora tocar o sino aparece o morto amarrado de correntes afogueadas com não sei que de incandescente que lhe transparecia em tôda a pessoa. O frade caíu de mêdo, mas cravou o olhar naquela terrível aparição; então o réprobo lhe falou: – “Não rezeis por mim, que estou no inferno para sempre.” E contou-lhe a lamentável história de sua maldita vergonha e dos seus sacrilégios. Depois desapareceu, deixando na igreja um odor pestífero que se espalhou por todo o convento, como para atestar a verdade do que o frade tinha visto e ouvido.
Advertidos os superiores fizeram remover de aí o cadáver, julgando-o indigno de sepultura eclesiástica.

Narram as crónicas de S. Bento de um solitário de nome Pelágio, que encarregado pelo pai da guarda do rebanho, levava vida exemplar, tanto assim que todos lhe chamavam santo. Assim viveu muitos anos. Mortos os pais, vendeu as poucas coisas que lhe deixaram, e se retirou para o ermo.
Uma ocasião teve a desgraça de consentir num pensamento desonesto. Cometido o pecado, caiu em profunda melancolia porque não queria confessá-lo, para não perder a fama em que era tido. Resolveu fazer penitência, sem confessar o pecado, iludindo-se a si mesmo que Deus talvez
lhe perdoasse sem confissão. Entrou num convento, onde foi recebido pela sua boa fama, e aí viveu vida austera. Chegou a hora da morte e êle se confessou pela última vez; mas como por vergonha ocultara o pecado durante a vida, assim deixou de o contar na hora da morte. Depois de receber o viático morreu e foi sepultado como o mesmo conceito de santo.
Na noite seguinte o sacristão encontrou o corpo de Pelágio em cima da sepultura e o enterrou outra vez; como, porém, o encontrasse desenterrado três noites consecutivas, avisou o abade, o qual foi ao sepulcro com outros frades, e:
– Pelágio, disse, tu foste sempre obediente durante a vida, obedece-me também agora depois de morto; dize-me: é talvez vontade divina que o teu corpo tenha lugar reservado?
O infeliz defunto dando um formidável grito respondeu:
– Ai! eu estou condenado por um pecado que não confessei; olhe, snr. abade, para meu corpo.
E o seu corpo, nêsse instante, apareceu como um ferro em brasa, que mandava chispas. Todos fugiam espavoridos; mas Pelágio chamou o abade para que lhe tirasse da bôca a partícula consagrada que ainda se achava aí. Depois disto, Pelágio disse que o tirassem da igreja e o lançassem no monturo, e a ordem foi executada.

Conta o Padre João Batista Manni, jesuita, que houve uma pessoa que por muitos anos calou na confissão um pecado de desonestidade.
Passaram por aquêle lugar dois frades dominicanos; ela, que sempre esperava um confessor estranho, pediu a um dêles que a ouvisse em confissão. Saindo da igreja, o companheiro contou ao confessor, que observara que, enquanto aquela senhora se confessava, saiam de sua bôca muitas serpentes; mas, que uma enorme serpente apenas pôs para fora a cabeça e entrou de novo; e então voltaram tôdas as outras.
O confessor, suspeitando o que isso pudesse ser, correu à casa daquela senhora; na porta lhe disseram que ela ao chegar à sala caira morta.
Depois disto, apareceu-lhe, durante a oração, a pobre mulher vestida de fogo e disse: – Eu sou aquela mulher que me confessei contigo, cometendo um sacrilégio; eu tinha um pecado que não queria confessar aos sacerdotes da cidade; Deus mandou um confessor de fora, e foste tu, mas também nessa ocasião deixei-me vencer pela vergonha e logo a justiça divina me castigou, tirando-me a vida apenas cheguei à casa, e justamente me condenou ao inferno.
Tendo assim falado, abriu-se a terra onde se precipitou e desapareceu para sempre.

No ano 285, duas matronas cristãs, Donvina e Teonila, foram levadas ao prefeito Lisias que as intimou a renegarem a fé e abraçarem o culto dos ídolos. Elas recusaram terminantemente. Então o prefeito mandou acender o fogo e erguer um altar dos ídolos.
– Escolhei, disse; ou queimar incenso aos nossos deuses, ou ser vós mesmas queimadas nesta fogueira.
As duas mártires responderam sem hesitar:
– Nós não tememos êste fogo que daqui a pouco se apaga; tememos, sim, o fogo do inferno que não se apaga nunca. Para não cair no inferno é que detestamos os vossos ídolos e adoramos a Jesus Cristo.
E assim sofreram o martírio.


Extraído do livro O Inferno Existe, do Venerável Padre André Beltrami, SDB

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