quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

AS ALMAS ESTÃO DORMINDO APÓS A MORTE?


John Schubert pergunta:

“Li seu blog e achei legal alguém se importar tanto com estudos da bíblia, então gostaria de tirar uam dúvida com você,
Lí na bíblia a seguinte passagem:
Ora, para aquele que está entre os vivos há esperança (porque melhor é o cão vivo do que o leão morto).

Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento.

Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.
Eclesiastes 9:4-6
Ora, para aquele que está entre os vivos há esperança (porque melhor é o cão vivo do que o leão morto).

Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento.

Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.
Eclesiastes 9:4-6

Segundo essa pasagem depois que morre já era e nã oacontece nada até Jesus voltar, ai não entendi aonde se encaixa o céu e inferno e o pulgatório.

Poderia me explicar isso, e me dizer onde encontro na bíblia essa explicação, principalmente do pulgatório?

Grato pela atenção

Abraço.”

A Sagrada Escritura não é um Livro pronto. Temos que ter em mente que ela não caiu do Céu com zíper e tudo e se fez presente no meio do Povo de Deus. Antes de tudo Ela foi vivida e depois escrita e só depois Ela foi tida como Palavra de Deus. Mas, como nos foi também revelado por são João no primeiro capítulo do seu Evangelho, Jesus Cristo é a Palavra de Deus. Assim como Jesus, que é cem por cento humano e cem por cento divino, assim também é a Palavra de Deus enquanto Escritura Sagrada – Ela é humana e divina, assim como Cristo.
Muitos assuntos na Sagrada Escritura foram sendo reveladas ao pouco ao Povo de Israel à medida que esse povo ia evoluindo em sua cultura e conseguia enxergar e viver essa Verdade. Como Israel era um povo supersticioso, porque saiu do meio de um povo supersticioso, era preciso que ele fosse educado, portanto Deus usou de pedagogia para revelar-se a esse povo, e também para revelar as verdades sobre a vida espiritual.
Isso é tanto verdade que o Povo de Israel esperava um Messias rei, assim como Davi, que os libertaria da tirania de outros povos e levaria Israel a ser a maior nação do mundo. Jesus Cristo nasceu como Rei, mas seu reinado é um reinado espiritual, nas almas dos cristãos, Ele é o Rei do Reino de Deus. Isso não tinha sido explicitamente revelado aos judeus e só foi possível entender isso depois da Ressurreição, porque até mesmo os Apóstolos esperavam um triunfo temporal de Jesus sobre todos os inimigos de Israel. Mas isso jamais ocorreu.
Muitas revelações bíblicas foram progressivas. Por exemplo: Deus não revelou seu nome de imediato; Deus não se mostrou como um Pai de imediato; Deus não proibiu o incesto de imediato, tanto é que antes de Moisés isso ocorria sem problemas; Deus não proibiu a poligamia de imediato, tanto que Salomão teve centenas de mulheres; Deus permitiu a pena de morte para os pecados de adultério e blasfêmia durante séculos e depois a proibiu veementemente; Deus “aceitou” o olho por olho e dente por dente durante muito tempo até que o proibiu; Deus aceitou o holocausto de animais até que o fez inválido. Deus usou de pedagogia com o seu Povo. Trabalhou com seu Povo segundo o que eles podiam suportar. Isso é evidente nas Sagradas Escrituras. Com relação com a Escatologia, isto é, ao estudo das coisas que acontecem durante e após a morte, não foi diferente. Deus não revelou tudo nos anos que antecederam a Vinda do Salvador. Mesmo por que o povo podia acabar invocando e adorando os mortos e por isso tentar entrar em contato com eles através da vidência, como faziam os povos ao seu redor, e o povo egípcio de onde eles saíram e trouxeram muitos dos seus costumes. Portanto, esse assunto não estava totalmente claro no Antigo Testamento, o que no Novo Testamento isso está explícito.
Contudo, em Jesus Deus se revelou completamente e revelou toda a Verdade. Não escondeu nada do que era necessário ao homem saber para sua salvação.
Jesus acreditava na imortalidade da alma e pregava sobre essa crença. Veja em Lucas 16, 19-31, a parábola que ele contou em que a alma viva e consciente do rico e de Lázaro estão no céu e no inferno, falando e pensando. O Senhor não contaria uma parábola que ensinasse um erro doutrinário. Jesus Cristo é a Verdade (São João 14, 6) e não ensinaria jamais uma mentira. Pode-se até ver que em nenhuma de suas parábolas ele conta um erro da razão ou que contradiga algo que Ele mesmo pregou.
Por conta da vida após a morte, o Senhor disse ainda: Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se” (São João 8, 56). Como Abraão poderia ver a Encarnação do Senhor se já estava morto? Ele viu o Senhor encarnado do mundo espiritual!
E mais, o Nosso Senhor Jesus Cristo falou: Ora, Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos; porque para ele todos vivem.” (São Lucas 20,37-40). Nesse momento o Senhor estava refutando com os fariseus e saduceus sobre a Ressurreição dos corpos, porém, como Jesus sempre fez, Ele respondeu além. Ele falou da imortalidade da alma. Ele disse que Deus não é Deus de mortos, e que para Deus todos vivem. Ora, se o Senhor Jesus estivesse se referindo somente à ressurreição, Ele não teria tido que todos vivem para Deus, porque o que Ele quis dizer é que todos continuam vivos para Deus.
No episódio do Monte Tabor (São Lucas 9, 30-31)  em que o Senhor se transfigura para os três Apóstolos, aparecem-lhe Moisés e Elias. Sabemos que, pelo menos, Moisés morreu (Deuteronômio 34, 5) e foi colocado Josué como seu sucessor, assim como aconteceu com Pedro quando morreu. Moisés já estava morto e ainda apareceu para o Senhor. Como seria isso? Ele não estava dormindo esperando a Volta do Senhor e a ressurreição! Ele estava vivo em sua alma espiritual esperando a ressurreição do seu corpo que se tornaria incorruptível com a Volta gloriosa do Senhor!
O Senhor também declarou:

"os santos são como os anjos de Deus no céu" (S. Mateus 22, 30).

Ora, os anjos não têm corpos, assim, as almas viverão como os anjos no Céu.

Nosso Senhor deixou claro ao ladrão na Cruz que este estaria com Ele, ainda naquele dia, no Paraíso; e perceba que o Senhor Jesus só ressuscitou no terceiro dia, portanto o Senhor não ficou dormindo e o ladrão também não ficaria à espera da Segunda Vinda do Senhor no final dos tempos.

“E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.
(São Lucas 23,43).

Após sua morte, Jesus, em alma (porque Ele é e era totalmente humano, portanto tinha uma alma imortal), "desceu" ao "mundo" dos espíritos e pregou aos que já haviam morrido:
Vemos isso explícito em I Pedro 3, 19-20:

“No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água.”

 E em I Pedro 4, 6:

“Porque por isso foi pregado o evangelho também aos mortos...”

São Paulo escreveu algo esclarecedor sobre a complexidade humana:

“Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 5, 23).

São Paulo aqui “divide” o ser humano em três para explicar que Deus deve habitar em todo nosso ser: em nosso corpo físico, nossa alma e em nosso espírito.
E São Paulo vai dizer ainda:

"Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro... Sinto-me num dilema: meu desejo é partir e estar com Cristo, pois isto me é muito melhor...."(Fl 1, 21, 23)

Ele tinha consciência que depois que morresse iria viver com Cristo imediatamente.

E São João, no Apocalipse, vê almas de mortos que falam e oram:

“E havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da Palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. “E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra.” (Apocalipse 6, 9)

E é muito explícito a Palavra do Senhor, mesmo no Antigo Testamento, que diz a Jeremias:

"E o Senhor disse-me: ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, a minha alma não se inclinaria para este povo; tira-os da minha face e retirem-se."
(Jeremias 15,1 ss)

Deus não é de mentiras. Moisés e Samuel já estavam mortos nessa situação que vivia o povo na época de Jeremias e Deus mostra que mesmo que esses dois profetas se colocassem para interceder, Ele não os ouviria. Ambos estavam mortos! Como poderiam eles falar com Deus mesmo mortos? Com certeza eles não estavam dormindo!

Portanto, com a chegada da Verdade, isto é, Jesus, foi-nos revelado completamente que, com a morte do corpo, a alma volta para Deus, consciente de seu estado e que fala, pensa e age, como seres humanos vivos. Portanto, existe vida após a morte em um estado até a Volta de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando nossos corpos serão ressuscitados para se unirem às nossas almas.
Mas antes disso, nossa alma passará pelo juízo divino antes de ir para seu destino eterno.

“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo.”
(Hebreus 9, 27)

Logo após a morte haverá o juízo com Deus, o que chamamos de Juízo Particular. E só no final dos tempos haverá o Juízo Universal ou Final.

Para finalizar, mais um texto sobre a imortalidade da alma humana:

“Outro anjo pôs-se junto ao ALTAR, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes para que os oferecesse com as ORAÇÕES DE TODOS OS SANTOS NO ALTAR de ouro, que ESTÁ ADIANTE DO TRONO. A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com AS ORAÇÕES DOS SANTOS, DIANTE DE DEUS.” (Apocalipse de São João 8, 3-4)

Essas almas de mortos intercedem diante do Trono de Deus.

Bem, espero ter respondido claramente sua pergunta. A parte sobre o Purgatório responderei em outra postagem.

Que Deus abençoe você em sua busca pela Verdade.

tt

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

É NATAL

Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 5,33-36

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João:

Naquele tempo, Jesus disse aos judeus: Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. Eu, porém, não dependo do testemunho de um ser humano. Mas falo assim para a vossa salvação. João era uma lâmpada que estava acesa e a brilhar, e vós com prazer vos alegrastes por um tempo com a sua luz. Mas eu tenho um testemunho maior que o de João; as obras que o Pai me concedeu realizar. As obras que eu faço dão testemunho de mim, mostrando que o Pai me enviou.
- Palavra da Salvação.
- Glória a Vós, Senhor.
Comentário ao Evangelho do dia feito por São Máximo de Turim
(? - c. 420), Bispo - Sermão 62

«Preparei uma lâmpada para o Meu Cristo» (Sl 132,17)

Na altura em que todo o universo se encontrava subjugado pelas trevas do diabo e o negrume do pecado reinava sobre o mundo, um novo sol, Cristo, Nosso Senhor, quis, nos últimos tempos e na escuridão da noite, espalhar a claridade dum novo dia. Antes de surgir esta luz, isto é, antes de que se manifestasse «o sol de justiça» (Ml 3,20), Deus anunciara já, pelos profetas: «Eu vos enviei todos os Meus profetas antes da luz» (Jr 7,25 [Vulgata]). Mais tarde, o próprio Cristo enviou os Seus raios, ou seja, os Apóstolos, a fazer brilhar a Sua luz e encher de Verdade a terra inteira, a fim de que ninguém se perdesse nas trevas. [...]
Nós, os homens, servimo-nos de lâmpadas para levar a cabo as nossas tarefas antes de o sol deste mundo nascer; ora, também o sol de Cristo teve uma lâmpada a preceder a Sua vinda, como diz o salmista: «Preparei uma lâmpada para o Meu Cristo» (Sl 132,17 [Vulgata]). O Senhor indica-nos quem é esta lâmpada, ao dizer, a respeito de João Baptista: «era uma lâmpada ardente e luminosa» (Jo 5,35). E o mesmo João diz de si próprio, como se fora o fraco clarão duma lanterna que se leva à nossa frente: «Mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não dou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no espírito Santo e no fogo» (Lc 3,16); ao mesmo tempo, percebendo que a sua luz devia desvanecer-se perante os raios desse sol, diz: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (Jo 3,30). Com efeito, assim como o clarão duma lanterna desaparece com a luz do sol, do mesmo modo o baptismo de arrependimento de João perde o valor com a chegada da graça de Cristo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O BATISMO DE CRIANÇAS


O Batismo é a porta de entrada para o Reino de Deus. No Batismo a pessoa se torna filho de Deus (ao seu unir pelo Batismo ao Corpo de Cristo), recebe em sua vida a Vida divina e as graças necessárias para se salvar, torna-se membro do Corpo de Cristo, que é a Igreja, apaga o pecado original que acompanha todos os filhos de Adão, isto é, todos nascem sem a graça da salvação, sem os méritos infinitos de Cristo, méritos esses completamente necessários para a salvação eterna. E como se recebe essa Redenção de Cristo? A porta para essa Vida de Deus é o Batismo.
É necessário crer para receber a salvação? Sim, mas não necessariamente para o Batismo. Em nenhum lugar se diz para ser batizado é preciso crer, diz apenas que para ser salvo é preciso crer e batizar: as duas coisas, Fé e Batismo. Mas só se pode pedir Fé àquele que já pode crer, mas o Batismo pode ser dado a qualquer um, porque é necessário a todos os filhos e filhas de Adão. O crer pode vir depois quando a criança crescer.
O Batismo não é somente para perdoar o pecado original ou atual, mas também, como aconteceu com Cristo, é também para receber o Espírito Santo. Ele apenas se deixou batizar para cumprir preceito, para nos mostrar o que deve ser feito, porque Ele não tinha necessidade de se limpar do pecado original ou de algum pecado atual, porque Ele nasceu sem o pecado original, pois sua Mãe não Lhe transmitiu a "separação" de Deus que todo homem tem quando vem ao mundo.
Você pode dizer que não é ideal batizar bebês, mas Deus mesmo ordenou que se consagrasse todo menino de 8 dias de vida (8 dias de vida!), circuncidando-o no oitavo dia. A criança nem sabia o que estava acontecendo, mas mesmo assim já estava sendo consagrada a Deus pelas mãos de seus pais e do sacerdote da Antiga Aliança, isto é, a fé dos pais e do sacerdote já lhes garantia essa dádiva da consagração.

O Batismo é uma circuncisão da alma São Paulo mesmo escreve (Romanos 2, 25-29). Vê se que se circuncidava ao oitavo dia de vida, sem mesmo a criança saber o que lhe estava sendo ministrado. Mas, no futuro saberia e creria. Assim é o que acontece com o Batismo administrado aos bebês.

“Foram circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo” (Cl 2,11), isto é, o Batismo.

Portanto, se era uso comum circuncidar os bebês, consagrando-os a Deus na Velha Aliança, na nova as crianças não têm direito de nascer de novo da água e do Espírito, quando elas também tem essa necessidade? ou as crianças não precisam nascer do Espírito Santo, não precisam ser consagradas a Deus, pela circuncisão de Cristo, no coração e na alma, recebendo a marca eterna dessa consagração através do Batismo?

Jesus disse: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus." 
(Evang. de São João, capítulo 3)

Se não nascer da água e do Espírito, isto é, pelo Batismo (circuncisão da alma e do coração) não entrará no reino de Deus. Esta Palavra de Cristo não é para todos os seres humanos?
Se damos o melhor para nossos filhos, roupas, calçados e comida, por que não dar o melhor do espiritual que é a redenção de Cristo, consagrando-os a Deus, permitindo que a criança se torne Templo do Espírito Santo desde seu primeiro dia de vida? (1 Cor 3, 16-17)
Pergunta-se então: mas não são inocentes de qualquer pecado esses bebês? Com certeza o são porque ainda não pecaram atualmente, porém, por serem descendentes de Adão e Eva, nascem separados da vida da graça, de Deus, da salvação, portanto.

"Certamente em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu a minha mãe."
(Sl 51,5)

"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." (Rm 5,12)

No início da Igreja já era costume o Batismo das crianças, como nos é provado historicamente, caindo assim a acusação dos Protestantes que diz que esse uso só surgiu a partir do século IV ou V. Veja:

No segundo século, Irineu escreveu a primeira declaração sobre a prática na Igreja do Batismo das crianças:

“Ele (Jesus) veio para salvar a todos através dele mesmo, isto é, a todos que através dele são renascidos em Deus: bebês, crianças, jovens e adultos. Portanto, ele passa através de toda idade, torna-se um bebê para um bebê, santificando os bebês; uma criança para as crianças, santificando-as nessa idade…(e assim por diante); ele pode ser o mestre perfeito em todas as coisas, perfeito não somente manifestando a verdade, perfeito também com respeito a cada idade” (Contra Heresias II,22,4 (ano 189)).

 Irineu foi batizado por Policarpo, e este foi discípulo de São João Evangelista.

No ano 215, Hipólito escreveu:

“Onde não há escassez de água, a água corrente deve passar pela fonte batismal ou ser derramada por cima; mas se a água é escassa, seja em situação constante, seja em determinadas ocasiões, então se use qualquer água disponível. Dispa-se-lhes de suas roupas, batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas” (Tradição Apostólica 21,16).

Orígenes fez uma firme declaração com respeito à origem apostólica do batismo das crianças:

“A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de dar Batismo mesmo às crianças. Os apóstolos, aos quais foi dado os segredos dos divinos sacramentos sabiam que havia em cada pessoa inclinações inatas do pecado (original), que deviam ser lavadas pela água e pelo Espírito” (Comentários sobre a Epístola aos Romanos 5,9 (ano 248)).

"Do batismo e da graça não devemos afastar as crianças" (São Cipriano, ano 248 - Carta a Fido).

Finalmente, eis uma interessante citação do eminente Teólogo Protestante Dr. R.C. Sproul, em “Verdades Essenciais da Fé Cristã”, com relação ao batismo das crianças:

“A primeira menção direta ao Batismo das crianças se vê por volta do meio do segundo século. O que é digno de nota sobre esta menção é que concorda que o Batismo das crianças era uma prática universal da Igreja. Se o Batismo das crianças não estivesse em prática no primeiro século da Igreja, como e por que começou como doutrina ortodoxa tão cedo e tão generalizadamente? Não somente foi uma rápida e universal disseminação, mas a literatura sobrevivente daquele tempo não demonstra nenhuma controvérsia a respeito desse costume. [...] A história da Igreja sustenta o testemunho da prática universal e não controvertida do Batismo das crianças no segundo século”.

Os Reformadores Lutero e Calvino também acreditaram ser apropriado batizar crianças.

Por isso, termino com duas frases; uma de Nosso Senhor Jesus Cristo e outra de seu atual Representante na Terra, Papa Bento XVI:
 
Dêem a César (ele que representa o mundo) o que é de César e a Deus o que é de Deus.”

“(As crianças) Não são propriedade privada dos pais, estes devem ajudá-las a ser filhas de Deus.”

A Jesus a glória e a nós a Misericórdia!

tt

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O MOTIVO DO SOFRIMENTO

O mundo não é do jeito que Deus quer. Isso nós temos que manter claro em nossa mente e em nosso coração.
Ele se tornou assim pela independência do homem, pela vontade do homem de governar sua própria história, de tentar escrever sua história sem a ajuda de Deus. Nossos primeiros pais, por livre e espontânea vontade, com um desejo livre de defeitos e decidido totalmente, resolveu não servir a Deus, mas quis ter uma vida totalmente à parte de Deus, recusando a ajuda e o governo de Deus. Desde então, todos os filhos de Adão e Eva nasceram “independentes” do governo absoluto de Deus, ferindo assim a Justiça, porque, Deus sendo Criador tem total direito de governo sobre sua Criação. Porém, mesmo sendo Criador, Deus é amor e quis saber de sua Criação se ela queria servir ou não, viver com Ele ou não, amá-Lo ou não, depender Dele ou não. O ser humano não quis.
A partir dessa opção livre e decididamente pensada, o ser humano que era belo, saudável, feliz, imortal, e obtinha diretamente de Deus, além de tudo isso, toda a ciência, perdeu essas vantagens. Ao se desligar da Fonte inesgotável da Vida, o ser humano passou a envelhecer, ficar doente, sentir dor, sofrer fisicamente, espiritualmente e psicologicamente, e o pior de tudo, perdeu a sua Comunhão com Deus, sendo, a partir daí, incapaz de passar a eternidade com Deus.
Onde havia paz, passou a haver desconforto.
Onde havia luz, passou a haver trevas.
Onde havia vida, passou a haver morte.
Onde havia felicidade infinita, passou a haver tristeza duradoura.
Onde havia amizade, passou a haver discórdia.
Onde havia imortalidade, a natureza passou a sucumbir.
Onde havia impassibilidade, a dor começou a reinar.
O homem sem Deus passou a ser oco. Sem vida. Passou a viver uma vida independente, mas totalmente mutilada. Como um ventilador desligado da tomada, o ser humano passou a colher as consequências do seu desligamento de Deus: começou como filho de Deus e passou a viver como um animal qualquer, corruptível, facilmente dominado por qualquer coisa e pessoa, e até mesmo o menor dos animais tornou-se seu inimigo. O ser humano mesmo tornou-se um de seus maiores inimigos, e mesmo a pessoa humana foi dividida: a mente, a alma e o corpo andam cada um para seu lado, separando e dividindo o ser humano. Daí passou o homem a sentir-se perdido e falível.
Deus não quis isto, mas teve que aceitar a escolha humana, porque Ele mesmo não quer seres que O sirvam como robôs, mas como pessoas capazes de decidir e livres para isto.
Desde então, o ser humano é livre para agir como quiser, e quer ser independente de tudo e de todos, quer viver uma vida do jeito que lhe presta, quer uma vida sem estar submisso a ninguém, só a si mesmo. O ser humano, responsável por seus atos, culpa a Deus que não pode fazer nada porque Ele não é convidado a fazer, Ele foi expulso das escolas, das famílias, do governo do país, das entidades filantrópicas. Ele que fez o homem livre para O amar, não pode interferir na decisão do homem que não O permite agir.
O ser humano, em sua vontade de ser livre e independente, pediu explícitamente que Deus se retirasse, tanto no âmbito individual quanto no âmbito comunitário. A maioria não quer que Deus interfira no mundo, e quando algo ruim acontece, culpam Deus de omisso. Omisso somos nós, desde o princípio da humanidade e hoje ainda é uma situação mais crônica, por pedirmos que Deus não interfira em nossas vidas. Ele não vai mesmo interferir porque Ele não muda a lei natural que Ele mesmo criou e Ele não quer robôs que O sirvam. Quer pessoas livres para O servir.
O mal no mundo é obra da independência humana que foi feito como criatura e não como um deus que saberia governar sua vida. O homem, criatura, dependente, quer por opção não depender do seu Criador, por isso desde o princípio da criação decidiu e decide viver como um deus, isto é, governando sua própria vida e escrevendo sua própria história.
Mas, o homem é limitado, por ser criatura e não deus, e como criatura limitada (mais ainda depois da Queda), não pode ter uma vida ilimitada (por isso fica doente, sente dor e sofre, como um ser limitado). Como o ser humano não quis depender de Deus, perdeu o contato com seu Criador, e portanto com a fonte infindável de vida e saúde, assim vive uma vida humana limitada, finita e caótica. É assim a condição de todo ser humano por causa do efeito da liberdade humana mal empregada desde o princípio pelos nossos primeiros pais.
Por vivermos uma condição limitada, hoje teríamos que voltar para Deus, entregar nossa vida e existência de volta para o Criador cuidar dela. Mas o que fazemos ainda hoje? queremos cuidar nós mesmos de nós, de nossa vida, do nosso mundo, da nossa história, por isso limitamos mais ainda nossa vida.
Prova disso é a vinda de Deus a este mundo. Jesus nasceu como qualquer um de nós. Morreu como qualquer um de nós. Sofreu como qualquer um de nós. Sentiu na pele a dor humana e a fase final da vida mundana. Por culpa própria? Não, por culpa de outros que eram responsáveis por sua vida humana. Os políticos, seus amigos, os representantes da sociedade, as pessoas próximas a Ele quiseram ainda viver uma vida sem Deus, por isso O entregaram à dor e à morte, mesmo Ele tendo uma condição já limitada, porque nasceu limitado como qualquer um de nós.
Por isso, querido amigo, a vida humana é limitada desde a concepção por culpa do ser humano que não escolheu depender de Deus e quis ser deus, governador do seu destino. E ainda limitamos mais ainda nossas vidas e das pessoas ao nosso redor por ainda hoje não querermos depender de Deus, e querermos ser livres da condição de criaturas e nos portarmos como deus e superiores a Ele. É assim a vida neste mundo e vai continuar assim até a nossa morte. Na vida eterna não será mais assim. Teremos uma vida plena, sem dor, sem doença e imortal e cheia da felicidade infinita de Deus. Isto se colocarmos nossa vida nas mãos de nosso Deus encarnado, Jesus Cristo, homem e Deus, para que Ele nos livre (pelos méritos de Vida humana e morte) da Justiça divina que pede conta de todos as decisões dos seres humanos.
Vejo você lá, se nos portarmos como dignos de tão elevada Vida na companhia do Criador.

A Jesus Cristo Sacramentado a glória e a nós a Misericórdia!

tt




quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A CRIAÇÃO DO UNIVERSO


Gabriel Oliveira pergunta:

Qual foi a luz que Deus fez no primeiro dia, se o sol só foi feito no quarto dia?

1 No princípio criou Deus os céus e a terra.
2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.
4 Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.
5 E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.

"DEUS FEZ A LUZ NO PRIMEIRO DIA; O LUMINAR MAIOR (SOL) NO QUARTO DIA."

14 E disse Deus: haja luminares no firmamento do céu, para fazerem separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para estações, e para dias e anos;
15 e sirvam de luminares no firmamento do céu, para alumiar a terra. E assim foi.
16 Deus, pois, fez os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; fez também as estrelas.
17 E Deus os pôs no firmamento do céu para alumiar a terra,
18 para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom.
19 E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.

ALGUÉM EXPLICA?!

Caro Gabriel:

Primeiramente, a Sagrada Escritura não é um Livro de cunho científico. Através da Sagrada Escritura, o principal intuito de Deus é revelar quem Ele é e qual sua Verdade para os seres humanos. Portanto, a Bíblia e toda sua narração tem como objetivo principal revelar “as coisas espirituais” e não explicar algo científico.
Contudo, a Bíblia em nada contradiz a Ciência, muito pelo contrário, a Fé e a Ciência caminham de mãos dadas.
Segundo o Gênese, o Universo e a Terra (centro da Revelação Bíblica) foram criados por Deus do nada. Essa é a síntese da Criação descrita pelo escritor do livro do Gênese. Deus, do nada, criou tudo. Pronto. Como isso ocorreu? Isso a Ciência tem que responder, e não a Bíblia.
O que é, então, o relato do Gênese? Deus quis explicar aos Israelitas a respeito de que Ele criou tudo do nada e que foi conduzindo essa Criação durante etapas ou “dias” (entre aspas mesmo), mostrando ao povo que eles deviam trabalhar durante seis dias e descansar no sétimo. Era um jeito de ensinar o povo a respeito do descanso do sábado.
No relato da Criação Deus “descansou” no sétimo dia... mas Deus não se cansa, como Ele poderia descansar? Significa que Ele estava catequizando o povo a respeito do descanso do sétimo dia. Uma das antigas leis de Deus sobre o descanso de um dia após seis dias de trabalho.
Portanto, o relato da Criação do Gênese não pode ser levado ao pé da letra. Porém, Deus ensinou os Israelitas sobre a Fé e a Moral e nos ensina também hoje através desse relato. O que Ele quer falar a nós, atualmente, sobre o que o Escritor inspirado escreveu?
Algumas considerações (além das considerações teológicas, já expostas acima):

  • Deus fez sozinho TUDO do NADA: A Ciência atual prova isso através do Big Bang. Antes do Big Bang não existia NADA, absolutamente. Isso prova a Ciência. Não existia nem tempo nem espaço e nem matéria. Tudo “apareceu” milagrosamente (isso explicam os cientistas) do nada, de repente, no Big Bang, simultaneamente;
  • Deus criou e foi trabalhando nessa Obra durante os próximos tempos (ou “dias): Segundo os físicos o Universo tem 13,7 bilhões de anos, com uma margem de erro de 0,2 bilhão para mais ou para menos. Ou seja, desde o Big Bang até agora já se passaram mais ou menos 14 bilhões de anos;
  • No princípio do relato tudo ainda eram trevas e matéria desorganizada e que Deus foi organizando: segundo os cientistas, não apareceram de repente estrelas, planetas, cometas. Isso tudo foi sendo organizado durante os bilhões de anos que se seguiram até o que nós conhecemos hoje das intricadas organizações existentes no Universo, a começar do nosso planeta.
  • Segundo o relato do Gênese, a Terra e o ser humano foram deixados por último na Grande Obra de Deus: segundo os cientistas o planeta Terra tem 4, 5 bilhões de anos e o ser humano só apareceu sobre a Terra há 150 mil anos e que nós tivemos uma só origem (não contrariando em nada o Gênese e o surgimento do casal Adão e Eva – nomes fictícios para personagens verídicos).
  • A Bíblia garante que Deus criou e mantém essa Obra: segundo os cientistas existem dois tipos de energia que garantem a estabilidade e a organização do Universo como tal: a energia escura e a matéria escura. São matéria e energia que podem apenas ser medidas, porém, não são vistas. São um dos grandes mistérios da física e que intriga os cientistas no mundo todo.

Portanto, caro Gabriel, a Bíblia não está se contradizendo. Ela só precisa ser olhada com o prisma da Teologia verdadeira.
E se quiser saber mais sobre a Bíblia, clique AQUI, que tenho algumas coisas a mais para te dizer.

Espero ter respondido sua questão.

tt

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

INTERCESSÃO DOS SANTOS

Dowgllazz Silva pergunta:

Porque os católicos rezam para santos alem de rezar para Deus ? muitos deles nem estão na bíblia, só foram criados pela mente humana...

Caro Dowgllaz:

Em nenhum lugar a Sagrada Escritura condena a veneração (coisa diferente de adoração, algo reservado somente a Deus) aos homens e mulheres de Deus, aliás, a Bíblia até incentiva a honra aos santos (santo não significa que seja santo como Deus, mas que é uma pessoa temente a Deus, que se salvou - no Novo Testamento vemos essa palavra muitas vezes empregada aos que se converteram).

Veja em segundo Reis 13, 20-21, o caso de Eliseu em que Deus cura através de suas relíquias (o que sempre acontece na Igreja de Jesus Cristo).


Em Eclesiástico 48,12, vemos a veneração do nome de Elias pelos judeus, um santo profeta de Deus:

"Quando Elias foi envolvido pelo turbilhão, Eliseu ficou repleto do espírito dele. Durante a vida, Eliseu não tremeu diante dos poderosos, e ninguém conseguiu dominá-lo. Nada era difícil demais para ele e, mesmo morto, ainda profetizou. Durante a vida realizou prodígios e, depois de morto, suas obras foram maravilhosas”.

No segundo livro dos Reis capítulo 2 vemos Eliseu utilizando uma relíquia de Elias:

"Então Elias pegou o manto, o enrolou e
bateu com ele na água. A água se dividiu em duas partes, de tal modo que os dois passaram o rio sem molhar os pés. [...] Pegou o manto de Elias, que havia caído, e voltou para a margem do Jordão. Segurando o manto de Elias, bateu com ele na água, dizendo: “Onde está Javé, o Deus de Elias?”Bateu na água, que se dividiu em duas partes. E ele atravessou o rio.”


Usava-se as relíquias de Paulo para realizar milagres:

"Deus fazia milagres extraordinários por INTERMÉDIO de Paulo, a tal ponto que bastava aplicar aos doentes os lenços e as roupas que tinham estado em contato com o seu corpo, para que as doenças e os espíritos malignos os deixassem.” (Atos 19,1).

Por intermédio de são Paulo, por sua intercessão Deus realizava vários e vários milagres.
Em Atos 5,12-13 vemos o povo venerando e honrando os Apóstolos:

“Muitos sinais e prodígios eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Todos os fiéis se congregavam, bem unidos, no Pórtico de Salomão. Nenhum dos outros ousava juntar-se a eles, mas o povo estimava-os muito.”

Vemos o povo de Israel honrando e venerando o patriarca Abraão
(São João 8 e Gálatas 3, 7).
Paulo considera Estevão mártir santo (cf. At 22, 20).

Deus mesmo honra seus santos, os ama e lhes aceita os pedidos, mesmo em vida, imagine depois de estarem com o Senhor!
Veja os mortos santos (= salvos) intercendendo diante de Deus:

“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
(Apocalipse 6).

E a Sagrada Escritura é clara a respeito da intercessão dos salvos (isto é, dos santos):

“E veio um outro anjo que se colocou perto do altar, com um turíbulo de ouro. Ele recebeu uma grande quantidade de incenso, para oferecê-lo com as orações de todos os santos, no altar de ouro que está diante do trono. E da mão do anjo subia até Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos.” (Apocalipse 8, 3-4)

A Igreja, desde os primórdios, e vê-se isso nos escritos do século I e II, que acreditava na intercessão dos mortos que foram salvos. Pelos méritos de Cristo, essas pessoas que foram salvas e já estão junto com o Senhor após sua morte, podem interceder pelos que ainda estão vivos.
A Igreja crê na Comunhão dos santos, isto é, a Igreja não é mutilada quando os seus fiéis morrem, mas a Comunhão da oração e dos seus dons se mantém.
A Igreja na eternidade e a Igreja na Terra é a mesma e única Igreja de Cristo, essa Comunhão não se acaba após a morte, muito pelo contrário, se intensifica. Os mortos estão vivos em Cristo e mantém contato através das orações e das bênçãos que recebem através de suas orações.

“E ele (Deus) nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez sentar nos céus, em virtude de nossa união com Cristo Jesus!” (Efésios 2, 6)

Por estarem os salvos (= santos) nos Céus, como se viu no Apocalipse 6 e 8, estão mais intimamente ligados ao Senhor, e pelos méritos de Cristo Jesus, conseguem de Deus graças para os que estão aqui neste mundo em busca de Deus.
E podemos pedir a eles graças, curas e milagres. Por que não? Não existe uma só proibição bíblica ou na Tradição da Igreja que nos motive a não pedir a um salvo no Céu, pela sua oração, alguma graça específica. Se em vida podemos pedir a intercessão dos que estão no caminho de Deus, por que não podemos pedir a eles depois que já estão nos Céus, assentados com Cristo à direita de Deus?
E como eles saberiam de nossas orações se não são oniscientes? Na onisciência de Deus, pela revelação de Deus a eles, os santos assistem os caminhos dos homens e da Igreja na Terra, veja em Apocalipse 6 que os santos mortos intercedem para que Deus faça justiça por aqueles que no mundo são perseguidos e até mortos pelo Reino de Deus.
Nós vemos também isto na parábola do Lázaro e do rico em que o rico assiste, mesmo depois de morto, e ainda estando no inferno, os seus parentes que ainda não se converteram dos seus caminhos errados e até intercede por eles, mas sem sucesso porque ele não está salvo (São Lucas 16). Imagine os santos que estão em completa comunhão com Deus!
Vemos isto até pela Palavra de Nosso Deus Jesus Cristo. No evangelho de S. Mateus (22, 30), Jesus Cristo ensina que os "santos são como os anjos de Deus no céu". Zacarias diz: "que o anjo intercedeu por Jerusalém ao Senhor dos exércitos" (1, 12 -13).

No Livro de Jeremias vemos:

"E o Senhor disse-me: ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, a minha alma não se inclinaria para este povo; tira-os da minha face e retirem-se."
(Jeremias 15, 1 ss).

No tempo de Jeremias, estavam mortos Moisés e Samuel, mas sua possível intercessão é confirmada pelas palavras do próprio Deus: "ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim...", quer dizer que eles poderiam se colocar diante de Deus para pedir clemência para com aquele povo. Em outras palavras, Deus deixa clara a possibilidade da intercessão após a morte.

Algumas vezes nem recebemos algumas graças porque não as pedimos pela intercessão de nossos irmãos, mostrando assim nossa humildade em recorrer a outra pessoa mais próxima da Majestade Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vemos no Livro de Jó:

"Tomai sete touros... e ide a meu servo Job... o meu servo Job... orará por vós e admitirei propício a sua face" (Jo 42, 8).

Deus somente “reconciliou” Consigo os amigos de Jó após a intercessão de seu servo Jó. Não adiantava eles orarem por eles mesmos.
No capítulo 12 de Números vemos que Miriam e Arão, irmãos de Moisés, foram punidos por Deus porque falaram mal de Moisés. Mas, por suas próprias orações não puderam ser curadoss de suas punições, e só foram curados mediante a intercessão de Moisés.
No capítulo 15 do Evangelho de São Mateus vemos que o Senhor Jesus não ouve as orações da Cananeia, porém, quando os Apóstolos intercedem por ela, Ele se digna ouvi-la. Eis aí o poder de intercessão da Igreja e dos santos (=salvos).

Jesus é o Sumo Sacerdote diante do Pai (isto é, o Grande Intercessor, o Grande Mediador), mas em Cristo também somos sacerdotes (sacerdote é aquele que intercede, oferece sacrifícios e media), veja:

‘‘Aquele que nos ama, que nos lavou de nossos pecados no seu sangue, e que fez de nós um reino de sacerdotes para Deus e Seu Pai.” (Apocalipse 1,9)

‘‘Cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhes os selos, porque foste imolado , e resgataste para Deus, ao preço de Seu Sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça; e deles fizeste para nosso Deus um reino de sacerdotes, que reinam sobre a terra’‘
(Apocalipse 5,9-10)

“Vos tornais os materiais desse edifício espiritual, um sacerdócio santo para oferecer vítimas espirituais a Deus, por Jesus Cristo.”
 (1 Pedro 2,4-5)

Então interceder a Deus não é errado, e pode-se pedir oração aos santos que habitam os céus para que orem por nós ao Senhor, por meio dos méritos infinitos de nosso Senhor Jesus Cristo, para nossas necessidades espirituais e humanas. Eles as ouvem pelo poder de Deus e podem interceder por nós diante do Trono do Altíssimo, porque eles O estão contemplando face a face.

Espero ter sido claro a respeito dessa Verdade bíblica.

A Jesus a glória e a nós a Misericórdia!

tt

terça-feira, 18 de outubro de 2011

OS TERRÍVEIS TORMENTOS DO INFERNO

Algumas histórias reais de provas da existência e da realidade do Inferno:

Um dia, uma alma santa meditava no inferno, e considerando a eternidade dos suplícios, aquêle terrível nunca e o terrível sempre, ficou bastante impressionada, porque não compreendia como se pudesse conciliar esta severidade sem medida com a bondade e outras perfeições divinas.
– Senhor, dizia ela, eu me submeto aos vossos juízos, mas, permití-me, não sejais demasiado rigoroso.
– Compreendes, foi a resposta, o que seja o pecado? Pecar é dizer a Deus: não Vos obedecerei; pouco se me dá da vossa lei; rio-me das vossas ameaças!
– Vejo, Senhor, como o pecado é um monstruoso ultraja à vossa divina majestade.
– Pois bem, mede, se podes a grandeza dêsse ultraje.
– Compreendo, Senhor, que êsse ultraje é infinito, porque vai contra a majestade infinita.
– Não se exige então um castigo infinito? quanto à intensidade, sendo a criatura limitada, requer a justiça que seja infinito ao menos quanto à duração: portanto, é a mesma justiça divina que exige o terrível sempre e o terrível nunca. Os próprios condenados serão obrigados a prestar homenagens, mau grado seu, a esta justiça e exclamar em meio aos tormentos: “Vós sois justo, Senhor, e retos os vossos juízos.”

Monsenhor Ségur, no seu áureo opúsculo sôbre o inferno narra três fatos, cada qual mais autêntico, acontecidos não faz muito tempo.

O primeiro, diz ele, sucedeu quase em minha família, pouco antes da terrível campanha de 1812, na Rússia. Meu avô materno, o Conde Rostopkine, governador militar de Moscou, era intimamente relacionado com o general Conde Orloff, tão valoroso quanto ímpio.
Um dia, após a ceia, o conde Orloff e um seu amigo, o general V…, volteriano como êle, puseram-se a ridicularizar a religião e sobretudo o inferno:
– Mas…, disse Orloff, e se houvesse alguma coisa além do túmulo?
– Neste caso…, diz o general V…, o primeiro que morrer virá avisar o outro; de acôrdo?
– Pois não, responde Orloff.
E ambos prometeram seriamente não faltar à palavra.
Algumas semanas após, desencadeou-se um daquelas guerras que Napoleão sabia suscitar; o exército russo foi chamado às armas, e o general V… recebeu ordem de partir incontinenti para um pôsto de comando.
Duas ou três semanas depois da partida de Moscou, quando meu avô se levantara, bem cedo, viu abrir-se bruscamente a porto do quarto e entrar o conde Orloff, com roupa de dormir, de chinelos, cabelo em desalinho, olhos esbugalhados, pálido como cera.
– Oh! Orloff vós aqui a esta hora? Neste traje? Que aconteceu?
– Meu caro, responde Orloff, eu perco a cabeça; vi o general V…
– Oh! Ele já voltou?
– Não, continua Orloff, atirando-se a um divã, não, não voltou, e é isto que me espanta.
Meu avô nada compreendia e procurava acalmá-lo.
– Contai-me, então, lhe disse, o que aconteceu e o que significa tudo isto.
Fazendo grande esfôrço para se acalmar, o conde Orloff contou o seguinte:
– Meu caro Rostopckine, não faz muito, o general V… e eu, juramos que o primeiro que morresse, viria avisar o outro se há de fato alguma coisa além do túmulo. Ora, pela madrugada, enquanto estava tranqüilo na cama, acordado, sem pensar no amigo nem no juramento, abre-se de repente o cortinado do meu leito e vejo, a dois passos de mim, o general V… de pé, desfigurado, com a mão direita no peito, e me fala: “Existe um inferno, e eu lá estou…” e desapareceu. Na mesma hora corri até cá; eu perco a cabeça! Que coisa estranha! não sei o que pensar!
Meu avô tranqüilizou-o como pôde: falou-lhe de alucinação, fantasia… que êle talvez estivesse dormindo… que às vêzes dão-se casos extraordinários, inexplicáveis… E procurava persuadí-lo com outros meios termos, que apesar de nada valerem, servem para consolar os céticos. Mandou preparar o coche e acompanhou o conde à sua casa.
Dez ou doze dias depois deste estranho acontecimento, um estafeta do exército comunicava ao meu avô, entre outras coisas, a morte do general V…
Naquela madrugada em que o conde Orloff o tinha visto e ouvido, o infeliz general, saindo a estudar a posição do inimigo, foi varado por uma bala e caiu morto.
“Existe um inferno, e eu lá estou…”
Eis as palavras de um que veio do outro mundo!

O segundo fato é referido pelo mesmo autor, que o tem por indubitável, como o precedente, pois o ouviu da bôca de um repeitabilíssimo eclesiástico, superior de importante comunidade, o qual por sua vez, soube os pormenores mediante um parente da senhora, com a qual se deu tal fato. Naquele tempo, isto é, por ocasião do Natal de 1859, ela ainda vivia e contava pouco mais de quarenta anos.
Achava-se essa dama em Londres no inverno de 1847 e 1848; enviuvara aos 29 anos, era muito rica e muito amiga dos divertimentos mundanos. Entre as pessoas elegantes que freqüentavam a sua casa, notava-se especialmente um moço, cujas contínuas visitas a comprometiam não pouco e cuja vida estava longe de ser edificante.
Uma noite, a senhora lia não sei que romance para conciliar o sono. Ouvindo bater o relógio, apagou a vela e dispunha-se para deitar, quando percebeu, com grande assombro, que uma luz estranha e pálida vinha da porta do salão contiguo e espalhava-se a pouco e pouco no quarto, aumentando sempre. Não sabendo o que era, do pasmo passou ao mêdo; eis senão quando, viu abrir-se lentamente a porta do salão e entrar no quarto o jovem desregrado, o qual, antes que ela pudesse pronunciar palavra, aproximou-se, tomando-a pelo braço esquerdo, apertando-lhe fortemente o pulso, e com aceno desesperado, lhe falou em inglês:
– Existe o inferno!
Foi tão grande o susto que a senhora perdeu os sentidos. Voltando a si, tocou nervosamente a campainha para chamar a criada, que a tendeu; entrando no quarto, esta sentiu logo um cheiro de queimado e chegando-se à ama, que com dificuldade articulava umas palavras pôde ver que tinha ao redor do pulso uma queimadura tão profunda que a carne desaparecera e ficava à mostra o osso. Observou além disso, que da porta do salão até o leito e do leito à porta do salão estava impressa a pegada de um homem, que tinha queimado o pano de parte a parte. Por ordem da ama, abriu a porta do salão, e notou que lá terminavam as pegadas no tapete.
No dia seguinte, a desditosa senhora soube com aquele mêdo que bem se compreende, que alta noite, o tal moço se embriagara com excesso, e transportado para casa, veio a morrer pouco depois.
Ignoro, acrescenta o superior, se esta terrível lição tenha convertido a infeliz dama; o que sei é que ela ainda vive e para esconder aos olhares curiosos o sinal daquela sinistra queimadura, leva no pulso, à guisa de bracelete, um largo enfeite de ouro, que não deixa nem de dia nem de noite. Repito que os particulares eu os tive da bôca de um seu parente próximo, católico sincero, a cuja
palavra presto fé. Os parentes não falam do ocorrido e é por isso que tenho o cuidado de ocultar o nome da família.
Apesar do véu, no qual esta aparição foi e deveu ser envolvida, não me parece, acrescenta Monsenhor Ségur, que se possa pôr em dúvida a formidável autenticidade.

O terceiro fato aconteceu na Itália.
Em 1873, em Roma, alguns dias antes da Assunção, uma moça, bastante má, machucou uma das mãos. Levaram-na para o Hospital da Consolação. Ou porque o sangue estivesse muito deteriorado ou porque sobreviesse grave complicação, a infeliz morreu naquela noite.
No mesmo instante uma de suas companheiras, que não sabia o que acontecera no hospital, pôs-se a gritar desesperadamente, a tal ponto que acordou tôda a vizinhança e provocou a intervenção da polícia.
A companheira que morrera no hospital apareceu envolvida em chamas e lhe disse: –“Estou condenada, e se não queres condenar-te também, sai deste lugar infame e volta a Deus.”
Nada consegui acalmar a agitação da jovem, que bem cedo abandonou aquela casa, deixando a todos atônitos, especialmente depois de divulgada a notícia da morte da companheira, no hospital.
Aconteceu que, logo depois, a proprietária da casa, uma garibaldina exaltada, caiu doente, mandou logo chamar um padre, dizendo que queria receber os sacramentos. A Autoridade Eclesiástica delegou para êsse fim um digno sacerdote, Monsenhor Piroli, pároco de S. Salvador em Laura. Munido de especiais instruções, êle se apresentou e exigiu, antes de tudo, que a doente fizesse, perante testemunhas, plena retratação de suas blasfêmias e insultos contra o Sumo Pontífice e declarasse que afastaria as ocasiões de pecado. Sem a menor hesitação, a infeliz promete e então se confessa e recebe o Sagrado Viático com grandes sentimentos de penitência e humildade.
Pressentindo o seu fim, a pobre mulher, com lágrimas nos olhos suplicou ao padre que não a abandonasse, amedrontada como estava por aquela aparição. Assim, teve a grande graça de ser assistida nos últimos momentos pelo ministro de Deus.
Tôda a Roma conheceu logo os particulares desta tragédia.
Como sempre, os ímpios e os libertinos fizeram dela objeto de chacota, abstendo-se, à aposta, de obter oportunas informações; mas, de sua parte, os bons aproveitaram para se tornarem melhores e mais exatos no cumprimento de seus deveres.

Santa Tereza foi um dia arrebatada em êxtase e levada ao inferno para ver o seu lugar, caso não se emendasse de certo defeito.
Ela mesma conta em sua autobiografia:
“Estando um dia em oração, fui transportada, sem saber como, em corpo e alma, ao inferno. Compreendi que Deus queria mostrar-me o lugar que ocuparia, se não mudasse de vida. Não tenho palavras que possam dar uma pequena idéia desse tormento incompreensível. Sentia em minha alma um fogo que me devorava e o corpo sofria dores insuportáveis. Dúrante minha vida passei por duros sofrimentos, mas, nem se comparavam com os que tive naquela ocasião; e ainda êsses subiam de ponto, ao pensar que seriam eternos e sem o menor alívio. Mas, apesar de as torturas do corpo serem atrozes, não tinham comparação com as agonias da alma. Ao mesmo tempo, sentia-me queimar e partir em pedaços, sofria tôdas as angústias da morte e os horrores do desespêro.
Num raio de esperança e de consolação naquela moradia, aí se respira um odor pestilencial, que sufoca; nem um raio de luz, mas tudo são trevas da mais densa escuridão; contudo, oh! mistério, mesmo naquele escuro se distingue o que de mais penoso há para a vista.
Em suma, tudo o que ouvi dizer ou li sôbre as penas do inferno é insignificante em confronto com a realidade; entre aquelas penas e estas há a mesma diferença entre uma pessoa e o seu retrato. Ai! o fogo dêste mundo por mais ardente que seja, é como o fogo pintado, comparado com aquêle que atormenta os réprobos no inferno.
Há dez anos que tive esta visão, mas estou ainda agora tão espantada, que, enquanto escrevo, o mêdo gela-me o sangue nas veias. Em meio às provocações e dores que tenho, trago à mente esta visão e de aí tiro fôrça para tudo suportar”.

Vicente de Beauvais, no livro 25 de sua História, refere o seguinte fato, acontecido pleno ano 1000.
Dois libertinos fizeram uma combinação: o primeiro a morrer viria à terra participar ao companheiro em que estado se achava. Morreu um deles, e Deus permitiu aparecesse ao amigo: era horrendo, parecia sofrer duramente e suava em bicas. Enxugou a fronte com a mão e deixou cair uma gota de suor no braço do companheiro, dizendo-lhe:
– Eis qual é o suor do inferno; dêle terás um vestígio até à morte.
E assim foi, pois aquêle suor infernal queimou-lhe o braço, penetrando na carne com dores inauditas.
Bom para êle que soube aproveitar-se de tão terrível lição e retirou-se para o convento.

Fala-nos o Padre Nierenberg de um jovem que levava uma vida aparentemente cristã, mas odiava a um inimigo; e conquanto frequentasse os Sacramentos, nutria para com êle sentimentos de vingança, que Jesus Cristo obrigava depor.
Morrendo, apareceu ao pai, todo envolvido em chamas, e disse-lhe que se condenara por não ter perdoado ao seu inimigo, e chorando exclamou:
– Ah! se tôdas as estrêlas do céu fossem como línguas de fogo, não traduziriam os tormentos que sofro.

Um virtuoso sacerdote, enquanto estava exorcizando um energúmeno, perguntou ao demônio que penas sofria no inferno. A resposta foi esta:
– Um fogo eterno, uma maldição eterna, uma raiva eterna e um desespêro cruel por não poder mais ver Aquele que me criou.
– Que farias para que te fosse concedido ver a Deus?
– Para vê-lo, mesmo por um instante, estaria pronto a sofrer num minuto tôdas as penas que devo sofrer em dez mil anos… Mas, vãos desejos, hei de sofrer sempre e não O tornarei mais a ver.
E foi tal o tormento e o desespêro com que pronunciou estas palavras, que deixou funda impressão naquelas que assistiam aos exorcismos.

Eu não creio em nada
– Eu não creio em nada, dizia-me duma feita um dêsses doutores da impiedade, com empáfia.
– Como? Vós não credes em nada? repliquei. Então não credes na existência da América, da Oceania…
– Oh! Certamente que sim; queria dizer, não creio em nenhuma coisa sobrenatural.
– Mas, porque credes na existência da América e da Oceania, que nunca vistes?
– Tem graça! Creio porque o afirmam os geógrafos e muitas pessoas que perlustraram essas regiões.
– E se credes na existência de coisas que nunca vistes, só porque o dizem os homens, porque não credes na existência do inferno, do juízo, revelada pela palavra infalível de Deus, confirmada pela razão e proclamada pela voz de todos os povos?
O livre pensador deu de ombros e não soube responder; mas, nem por isso se converteu. Custava-lhe tanto deixar sua vida desregrada e praticar a virtude!
Como são dignos de compaixão êsses libertinos! Pretendem destruir o inferno, negando-lhe a existência; mas, quem nega uma coisa não consegue eliminá-la. Se eu negasse a existência da América ou da África, não conseguiria riscá-las da face do globo, mas subsistiriam, não obstante minha negação. Negai, negai quanto quiserdes a existência do inferno, que apesar disso o inferno continuará a existir e a queimar as suas vítimas, e um dia se abrirá para vós e vos sepultará naquelas chamas, se vos não corrigirdes de vossas desordens. A vossa fanfarrice e a vossa negação estulta não apagarão certamente aqueles ardores sempiternos, ao contrário, servirão para os aumentar e fazer-vos afundar mais naquele abismo. Quanto mais vos obstinardes na infidelidade e na negação do inferno, tanto mais acumulareis pecados e culpas para expiar na eterna prisão.

O Padre Bach, na vida de S. Francisco de Jerônimo, narra a triste sorte duma mulher incrédula que zombava do inferno e dos novíssimos. O fato não deixa nenhuma dúvida, pois foi
juridicamente provado no processo de canonização do santo, e atestado com juramento por muitas testemunhas oculares.
No ano de 1707, S. Francisco de Jerônimo prègava, como de costume, nos arrabaldes de Nápoles, falando sôbre o inferno e os terríveis castigos reservados aos pecadores obstinados. Uma mulher insolente, morava na redondeza, aborrecida com aqueles sermões, que lhe acordavam no coração amargos remorsos, procurou molestá-lo com chascos e gritos, desde a janela de sua casa; uma vez, o santo lhe disse: – Ai de ti, filha, se resistes à graça! não passarão oito dias, sem que Deus te castigue.
A desaforada mulher não se perturbou por aquela ameaça e continuou a com suas más intenções. Passaram-se oito dias, e o santo foi prègar de novo perto daquela casa, mas desta vez as janelas estavam fachadas e ninguém o importunava. Os vizinhos que ouviam consternados lhe disseram que Catarina (tal era o nome daquela péssima mulher) tinha morrido de improviso, pouco antes.
– Morreu? disse o servo de Deus; pois bem, agora nos diga de que valeu zombar do inferno; vamos perguntar-lhe.
Os ouvintes sentiram que essas palavras o santo as pronunciara com inspiração, e por isso todos esperaram um milagre. Acompanhado da multidão subiu à sala, convertida em câmara ardente, e após breve oração, descobriu o rosto da morta e:
– Catarina, gritou, diz-nos onde estás!
A esta ordem, a defunta ergue a cabeça, abre os olhos, toma côr o seu rosto, e em atitude de horrível desespêro, profere com voz lúgubre estas palavras:
– No inferno! eu estou no inferno!
Imediatamente cai e volta ao estado de frio cadáver.
Eu estava presente ao fato, afirma uma das testemunhas que depuseram no tribunal apostólico, mas não saberia explicar a impressão que causou em mim e nos circunstantes; ainda hoje, passando perto daquela casa e olhando a tal janela, fico muito impressionado. Quando vejo aquela funesta moradia, parece-me ouvir a lúgubre voz: – No inferno! eu estou no inferno!

Na vida de S. Bruno, fundador dos Cartuxos, lê-se a ressurreição momentânea de uma personagem respeitável para atestar diante de muita gente a própria condenação. París e tôda a França ficaram horrorizados com êsse acontecimento; foi, então, que Bruno temendo os juízos divinos retirou-se para a Cartuxa a fim de lavar vida austerríssima.
Morreu Raimundo Diocres, doutor de Sorbona, homem conceituadíssimo pela sua vasta ciência, não menos por uma aparência de virtude. Depois de três dias, o seu corpo, revestido das insígnias doutorais, foi transportado solenemente para ser sepultado; acompanhavam-no o colégio dos professores, grande número de estudantes e teoria de clero.
As exéquias celebraram-se na catedral, revestida de luto, entre luzes e muitas inscrições que lembravam a insígne ciência e as virtudes do ilustre extinto. Mas quando o coro dos cantores chegou àquele trecho do ofício: Responde mihi: quantas habeo iniquitates et peccata; scélera mea et delicta ostende mihi; onde o santo Job roga a Deus lhe faça conhecer as suas culpas, o cadáver levantou a cabeça e féretro e com voz lastimosa exclamou: Por justo juízo de Deus sou acusado: dito isto, tornou a repousar a cabeça, como dantes.
Apoderou-se dos assistentes um terror geral, e resolveram deixar para o outro dia os funerais. Neste dia foi muito maior a concorrência; recomeçou-se o ofício, e ao chegar às mesmas palavras, tornou o cadáver a erguer a cabaça e a exclamar com voz esforçada e mais lastimosa: Por justo juízo de Deus estou julgado.
Subiu de ponto o pasmo e o espanto. Resolveram diferir a inumação para o terceiro dia. Nesta foi imenso o concurso; deu-se princípio ao ofício, como nos precedentes; quando se cantavam as mesmas palavras, levantou o defunto a cabeça, e em voz horrível e espantosa exclamou: Não careço de orações; por justo juízo de Deus estou condenado ao fogo eterno.
É fácil compreender a impressão que faria nos ânimos um acontecimento tão extraordinário. Achava-se Bruno presente a êste espetáculo; tão fortemente se emocionou com êle que, retirando-se horrorizado, resolveu deixar quanto tinha e enterrar-se em algum espantoso deserto para ali passar a vida entregue unicamente aos rigores da mortificação e da penitência. Parecia necessário um sucesso tão trágico para uma resolução tão generosa.

Santo Antônio de Florença refere nos seus escritos um fato terrível, que pela metade do século XV encheu de pavor todo o norte da Itália.
Um rapaz de boa família, que na idade de 16 para 17 anos tivera a desgraça de calar na confissão um pecado mortal e de comungar nesse estado, ia adiando, de semana em semana, de um mês para outro, a confissão para êle tão penosa dos seus sacrilégios. O santo arcebispo não menciona qual fôsse o pecado oculto, mas parece que tenha sido uma culpa grave contra a bela virtude. Atormentado pelos remorsos, em vez de descobrir com sinceridade a sua miserável condição, procurava a paz fazendo grandes penitências; mas inutilmente.
Não agüentando mais os contínuos assaltos da consciência entrou num convento, pensando: – Lá, ao menos, confessar-me-ei bem e farei penitência dos meus pecados: Por sua desgraça foi recebido como um moço de vida exemplar, pois os superiores sabiam da boa reputação de que gozava; e por isso, também aqui a voz da consciência para outra ocasião, e dois, três anos passou-se em tal deplorável estado, sem ter a coragem de se confessar.
Afinal uma doença parecia-lhe trouxesse oportunidade: – Desta vez, dizia consigo o infeliz, manifesto tudo e faço uma confissão geral antes de morrer.
Mas, também desta vez não foi sincero na acusação; fez tantos rodeios que o confessor não compreendeu nada; esperava confessar-se melhor no dia seguinte, mas surpreendido por uma crise, expirou miseràvelmente nesse estado.
Na comunidade, ignorando todos o seu triste fim, cercaram de veneração o defunto; o corpo foi transportado para a igreja do convento, onde ficou exposto no côro até as matinas do dia seguinte, quando se fariam as exéquias.
Uns minutos antes da hora marcada para a cerimônia, a um dos frades que fora tocar o sino aparece o morto amarrado de correntes afogueadas com não sei que de incandescente que lhe transparecia em tôda a pessoa. O frade caíu de mêdo, mas cravou o olhar naquela terrível aparição; então o réprobo lhe falou: – “Não rezeis por mim, que estou no inferno para sempre.” E contou-lhe a lamentável história de sua maldita vergonha e dos seus sacrilégios. Depois desapareceu, deixando na igreja um odor pestífero que se espalhou por todo o convento, como para atestar a verdade do que o frade tinha visto e ouvido.
Advertidos os superiores fizeram remover de aí o cadáver, julgando-o indigno de sepultura eclesiástica.

Narram as crónicas de S. Bento de um solitário de nome Pelágio, que encarregado pelo pai da guarda do rebanho, levava vida exemplar, tanto assim que todos lhe chamavam santo. Assim viveu muitos anos. Mortos os pais, vendeu as poucas coisas que lhe deixaram, e se retirou para o ermo.
Uma ocasião teve a desgraça de consentir num pensamento desonesto. Cometido o pecado, caiu em profunda melancolia porque não queria confessá-lo, para não perder a fama em que era tido. Resolveu fazer penitência, sem confessar o pecado, iludindo-se a si mesmo que Deus talvez
lhe perdoasse sem confissão. Entrou num convento, onde foi recebido pela sua boa fama, e aí viveu vida austera. Chegou a hora da morte e êle se confessou pela última vez; mas como por vergonha ocultara o pecado durante a vida, assim deixou de o contar na hora da morte. Depois de receber o viático morreu e foi sepultado como o mesmo conceito de santo.
Na noite seguinte o sacristão encontrou o corpo de Pelágio em cima da sepultura e o enterrou outra vez; como, porém, o encontrasse desenterrado três noites consecutivas, avisou o abade, o qual foi ao sepulcro com outros frades, e:
– Pelágio, disse, tu foste sempre obediente durante a vida, obedece-me também agora depois de morto; dize-me: é talvez vontade divina que o teu corpo tenha lugar reservado?
O infeliz defunto dando um formidável grito respondeu:
– Ai! eu estou condenado por um pecado que não confessei; olhe, snr. abade, para meu corpo.
E o seu corpo, nêsse instante, apareceu como um ferro em brasa, que mandava chispas. Todos fugiam espavoridos; mas Pelágio chamou o abade para que lhe tirasse da bôca a partícula consagrada que ainda se achava aí. Depois disto, Pelágio disse que o tirassem da igreja e o lançassem no monturo, e a ordem foi executada.

Conta o Padre João Batista Manni, jesuita, que houve uma pessoa que por muitos anos calou na confissão um pecado de desonestidade.
Passaram por aquêle lugar dois frades dominicanos; ela, que sempre esperava um confessor estranho, pediu a um dêles que a ouvisse em confissão. Saindo da igreja, o companheiro contou ao confessor, que observara que, enquanto aquela senhora se confessava, saiam de sua bôca muitas serpentes; mas, que uma enorme serpente apenas pôs para fora a cabeça e entrou de novo; e então voltaram tôdas as outras.
O confessor, suspeitando o que isso pudesse ser, correu à casa daquela senhora; na porta lhe disseram que ela ao chegar à sala caira morta.
Depois disto, apareceu-lhe, durante a oração, a pobre mulher vestida de fogo e disse: – Eu sou aquela mulher que me confessei contigo, cometendo um sacrilégio; eu tinha um pecado que não queria confessar aos sacerdotes da cidade; Deus mandou um confessor de fora, e foste tu, mas também nessa ocasião deixei-me vencer pela vergonha e logo a justiça divina me castigou, tirando-me a vida apenas cheguei à casa, e justamente me condenou ao inferno.
Tendo assim falado, abriu-se a terra onde se precipitou e desapareceu para sempre.

No ano 285, duas matronas cristãs, Donvina e Teonila, foram levadas ao prefeito Lisias que as intimou a renegarem a fé e abraçarem o culto dos ídolos. Elas recusaram terminantemente. Então o prefeito mandou acender o fogo e erguer um altar dos ídolos.
– Escolhei, disse; ou queimar incenso aos nossos deuses, ou ser vós mesmas queimadas nesta fogueira.
As duas mártires responderam sem hesitar:
– Nós não tememos êste fogo que daqui a pouco se apaga; tememos, sim, o fogo do inferno que não se apaga nunca. Para não cair no inferno é que detestamos os vossos ídolos e adoramos a Jesus Cristo.
E assim sofreram o martírio.


Extraído do livro O Inferno Existe, do Venerável Padre André Beltrami, SDB